O Opinacio - Para Todos os Opinas

Um blog. Alguém me disse para fazer um blog. O que é isso de um blog? Vou ver o que é um blog. Fiz um blog. Aqui está o opinacio - para todos os opinas.

Thursday, September 22, 2005

O Regresso dos Heróis

Major Valentão
Em Gondomar sou rei e senhor. Sou dono da câmara, mando no clube de futebol e tenho uma loja de electrodomésticos. No Porto sou rei e senhor. Mando no Metro, sou empreiteiro e jogador de casinos na Liga de Clubes. Gosto de charutos e a mim ninguém me apanha!

Avelino Megalómano
Em Marco de Canaveses sou rei e senhor. Tenho o meu nome em todas as avenidas, ruas e praças, tenho um estádio de futebol e um mercado. Os meus hobies são o karaté, alterar o PDM em meu benefício, bater nos meus adversários e utilizar funcionários da câmara para trabalhar na minha mansão. Gosto do Big Brother e a mim ninguém me apanha!

Nossa Senhora de Felgueiras
Em Felgueiras sou Nossa Senhora. Ao meu santuário peregrinam milhares de pessoas. Faço milagres. O povo gosta de mim. Gosto de sacos de todas as cores. Gosto de Ipanema e a mim ninguém me apanha!

Isaltino Cabalas
Em Oeiras fui e sempre serei rei e senhor. Tenho uma grande obra. Bem sei que tenho processos em tribunal, mas o dinheiro não era meu. Era de um sobrinho taxista que vive num bairro social em Zurique. Eu só era o guardião do dinheiro. Não tenho culpa de confiarem em mim! Perguntem aos construtores civis quantas vezes guardaram avultadas somas em dinheiro no meu bolso? E olhem que os empreiteiros são desconfiados! Gosto de isaltinar e a mim ninguém me apanha!

Monday, September 19, 2005

Esta Lisboa que Amanhece

Lisboa da minha infância
Entre o estuário e o oceano vê-se a cidade de Lisboa. Poucas cidades no mundo têm esse privilégio. A olhar para o Atlântico e a sorrir para o Tejo, Lisboa é uma cidade única. Lisboa é a cidade eterna de Ulisses, de Camões e de Pessoa. Lisboa é a cidade eterna de D. Fernando, do Marquês de Pombal, de Duarte Pacheco, de Pardal Monteiro e de Cassiano Branco. É a cidade eterna de todos nós.
Lisboa fica na memória. Lembro-me de navegar por essas ruas com os meus amigos de bicicleta e de descobrir cada canto, cada esquina, cada pessoa.
Essa Lisboa do imaginário que se perpetua na minha memória. A Lisboa do Largo de S.Paulo, da Bica, do Bairro Alto, de Alfama, do Castelo, das Avenidas Novas, do Bairro Azul, de Alvalade. Essa Lisboa multifacetada de gente, de costumes, de saberes, de cheiros e vivências. Essa Lisboa que eu descobri e vivi. Essa Lisboa que ficou na minha memória.
Hoje, já não te consigo encontrar, talvez já nem te conheça.
Lisboa, tu que desapareceste e não nos disseste nada. Foste embora como um filho que sai de casa dos pais para nunca mais voltar. Para onde foste?

Os Números do Desassossego
A cidade de Lisboa com cerca de 84 km2 e 565 mil habitantes é o pólo centralizador da Área Metropolitana (AML) com cerca de 3120 km2 e mais de dois milhões e meio de habitantes. Ao nível do emprego, há um predomínio da oferta na cidade de Lisboa, que absorve 365 mil empregos de um total de cerca de 710 mil pessoas empregadas na AML.
Nos últimos dez anos a cidade de Lisboa perdeu cerca de 120 000 habitantes, sendo que o saldo migratório e o saldo natural foram negativos (-10% e -5%, respectivamente).
Diariamente entram na cidade cerca de meio milhão de automóveis.
Na AML efectuam-se diariamente cerca de quatro milhões de deslocações, das quais três milhões são motorizadas. A utilização do sistema de transporte público tem registado uma evolução negativa.
Os níveis de reabilitação e requalificação urbana da cidade são os mais baixos da União Europeia (UE). Em contraponto, os níveis de construção nova são os mais elevados da UE.

Estrada Perdida
Actualmente a Câmara Municipal de Lisboa (CML) encontra-se mergulhada num défice inimaginável, fala-se em 100 milhões de euros. As empresas públicas camarárias (EPUL, EGEAC, EMEL, etc.) são sorvedouros de dinheiros públicos e poisos de administradores partidários que entregam o bem público a interesses privados. Veja-se a cedência de terrenos públicos aos clubes de futebol (Benfica e Sporting), a autorização da construção e instalação de bombas de gasolina, por sinal de clubes de futebol, em plena zona residencial (Galp Lumiar) que implicou a destruição de equipamentos desportivos para a população, equipamentos construídos com dinheiro público cedidos para exploração ao desbarato a privados (Clube Faia em Telheiras), o péssimo negócio Parque Mayer/Feira Popular, o buraco financeiro da EMEL…a lista é interminável.
O Túnel do Marquês e a famigerada requalificação do Parque Mayer são casos paradigmáticos daquilo que é hoje a gestão da cidade de Lisboa. Uma gestão errática, sem planeamento, sem ordenamento, sem visão, sem resolver os problemas estruturais da cidade.

A Leste do Paraíso
A requalificação e reabilitação urbana não existem. Lisboa tem mais idosos e menos jovens. Lisboa perde população. O estacionamento é anárquico. O trânsito é caótico. Lisboa tem mais automóveis a circular. Lisboa não tem um sistema de transportes integrado com a AML e o existente não responde às necessidades da população residente e pendular. Os espaços verdes, equipamentos sociais e desportivos estão destinados ao abandono. A poluição do ar tem aumentado a níveis preocupantes (o eixo Avenida da Liberdade/Campo Grande é o dos mais poluídos da Europa).
O centro de Lisboa tem um parque habitacional velho, degradado desprovido de pessoas, munido de pobreza. Contudo, assiste-se a uma nobilitação urbana no centro da cidade, onde crescem isoladamente condomínios privados de luxo. Paradoxalmente, no centro da cidade vivem os mais pobres e os mais ricos.
Nos limites da cidade, os patos-bravos apoderam-se do território. A construção é desordenada, de qualidade duvidosa e a preços proibitivos para a classe média. Chega-se ao ponto de vermos prédios de luxo implantados em ruas que parecem saídas de uma qualquer rua de Bucareste ou de Nova Deli.
Vivemos numa cidade segregada, retalhada em pequenos pedaços. Lisboa está sem defesas e sem rosto. Foi tomada de assalto. Os cidadãos ficaram prisioneiros numa cela sem grades. À deriva num oceano sem água.

Uma História Simples
A Lisboa da minha memória não é a Lisboa ideal. A Lisboa da minha infância não é certamente um postal turístico. A Lisboa que eu desejo não é certamente irreal.
O sonho da minha Lisboa é uma cidade onde os cidadãos sejam actores principais e possam decidir, construir e viver a cidade. Uma cidade que seja sustentável. Uma cidade que deixe respirar e seja ordenada.
Em tempo de eleições, aqui ficam os meus sonhos e projectos estruturais que gostaria de ver realizados nos próximos dez anos:

- Gestão do território mais eficaz com a reestruturação das unidades administrativas (juntas de freguesia), passando haver áreas de intervenção territoriais (divisão do território em unidades maiores); Extinguir as empresas municipais;
- Apostar seriamente na reabilitação urbana, principalmente no centro histórico. Arrendamento a custos controlados para os jovens. Apostar na requalificação urbana das áreas degradadas, nomeadamente no eixo Martim Moniz/Intendente/Almirante Reis; Cais do Sodré; Baixa.
- Sistema Integrado de Transportes da AML; sistema de transportes integrando eléctricos rápidos e metro entre a cidade e a periferia complementados com autocarros de ligação no interior da cidade;
- Construção de silos automóveis no centro da cidade; Construção de parques automóveis na entrada da cidade com custos reduzidos para o utilizador; criação de passes integrados entre transportes e estacionamento.
- Corredores verdes nos principais eixos da cidade. Preservação dos logradouros; Manutenção efectiva dos espaços verdes existentes;
(…)

As ideias que aqui lanço são de um cidadão preocupado com a cidade e que a gostaria de viver. A cidade para os cidadãos. A cidade virada para o futuro.

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